Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

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sexta-feira, 31 de julho de 2009

RELATÓRIO 23/06

Para este encontro estava previsto a leitura do texto “A doutrina das semelhanças” de Walter Benjamin, dando continuidade ao aprofundamento teórico almejado pelo grupo na questão da mímesis.
Uma experiência mimética acontece quando a criança se aproxima do que não conhece para produzir e reconhecer semelhanças, é a forma com que interpreta e se comunica com o mundo, ou seja, de se relacionar com ele, como uma dimensão mais ampla da própria linguagem.
Nas brincadeiras infantis, a mímesis tem uma ligação muito íntima com o aprendizado das mesmas, visto que, as crianças não nascem sabendo brincar, mesmo sendo uma manifestação espontânea e natural desta fase, é através da mímesis que as crianças vão se familiarizando com as brincadeiras.
Quanto mais possibilidades de movimentos as crianças tiverem contato, seja através da mímesis ou da proposição dos educadores, mais confiantes elas vão ficando para realizar estes movimentos e também se desafiarem. Dentro das brincadeiras infantis, os participantes do grupo destacaram duas formas de prazer, a primeira é o prazer do movimento, a sensação, e a outra é exatamente o prazer em realizar o movimento. Uma professora do grupo nos retratou como a mímesis desempenha destacado papel na aprendizagem de brincadeiras e movimentos, “uma criança só percebeu que não conseguia saltar quando viu o colega saltando”.
Através da mímesis, as crianças não representam apenas outros seres humanos, mas também outras coisas, como um helicóptero, o vento, o sol, um carro, etc. Uma representação muito comum é a criança reproduzir a professora, uma figura identitária muito importante, porém, como relatado pelo grupo, isto não é uma regra, visto que há professoras muito agitadas com turmas calmas.
Em outras situações, o professor é quem mimetiza as crianças, quando não faz o distanciamento e se mistura com que está acontecendo. Um exemplo utilizado no encontro foi os momentos de confusão, transtorno, que ao invés de dar uma bronca, traz uma solução no nível das crianças, ou seja, mimetiza a situação.
Uma professora do grupo citou outro exemplo em relação ao professor mimetizar as crianças, quando ela presenciou uma educadora falar bem-feito para uma criança, atitude muito comum entre as crianças daquela instituição. Há realmente momentos em que o professor perde a razão e toma atitudes que não seriam as mais adequadas para a situação, porém, o que discutimos e julgamos problemático é a naturalização destas atitudes. É necessário que o educador faça a separação entre o que sente, o que fala e as suas ações.
O educador não deve considerar a criança como um adulto infantilizado, é preciso reconhecer que em algumas situações as crianças são chatas e atormentam. O problema é conceber isto como o lugar comum, ou seja, considerar a criança como chata em todas as suas atitudes, é preciso ficar atento para que estas práticas não se naturalizem e o professor consiga fazer o distanciamento necessário.
A partir desta questão, surge a discussão sobre a diferença entre a professora de sala e o professor de Educação Física, que são considerados como permissivos perante os olhos das educadoras de sala. É claro que as professoras de sala, por passarem maior tempo com as crianças é a principal referência de disciplina e tem um olhar muito voltado para o cuidado. Já os professores de Educação Física, que trabalham com o corpo, movimentos, enxergam este cuidado de outra maneira, um exemplo citado no encontro reflete exatamente isto, quando uma criança vai cair, o professor de Educação Física deixa, pois acredita que isto faz parte do processo de aprendizagem do que está sendo proposto. Neste exemplo, é necessário frisar que o espaço e os materiais foram pensados previamente, evitando qualquer lesão mais séria.
Concordamos que as crianças precisam de organização em vários momentos, mas isto não pode significar o mesmo que privar as crianças de algumas situações que podem ser interessantes de serem vivenciadas.
Casos de como a mímesis está presente nos momentos da Educação Física foram relatados neste encontro, como na brincadeira do boi-de-mamão, em que as crianças querem sempre ser o boi, de como as crianças tem medo da bernuza, mas não tem medo de ser a bernuza. Outro relato foi em relação ao ensino da dança através da mimetização de algumas situações como derreter igual sorvete, de mexer como uma gelatina, de lavar as mãos, encher e murchar como um balão. Nestas experiências miméticas, as crianças representam corporalmente como elas percebem estas situações, sendo assim, tem uma ligação muito íntima com o imaginário.
Finalizando o encontro, levantamos um questionamento muito válido em relação ao processo educacional, como educar/humanizar sem a opressão, como fazer isto através de um disciplinamento não tão marcado pelas relações de poder? Como proporcionar uma educação que não oprima a espontaneidade, mas que também não deixe livre? Nos questionamos em relação a isto porque consideramos que o processo educacional é também um processo civilizatório, onde as crianças tem contato com o conhecimento, a cultura e a sociedade, com todas as suas regras, padrões e condutas sociais.