Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

Sejam bem-vindos !

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

RELATÓRIO 25/11

Um dos elementos que está presente no esporte é a violência, muito em função da competitividade, da sobrepujança sobre o outro, que se manifesta tanto nas práticas pedagógicas de Educação Física quanto no alto rendimento.
Podemos argumentar que o esporte reproduz a ordem social, estabelecendo assim padrões de condutas, controlando a violência através das leis do estado, controle esse apontado por Elias como o controle das emoções no processo civilizador. As crianças aprendem com o passar do tempo a se auto-controlarem através das leis e regras sociais, manifestando isto nas brincadeiras infantis, reconhecendo a figura do outro, aprendendo a conviver em sociedade. Para Elias, o nível de controle das emoções de qualquer sociedade é diretamente proporcional ao grau de “civilidade” dessa sociedade, ou seja, quanto mais elevado for esse patamar, mais distante essa sociedade estará da barbárie.
A superficialidade com que o fenômeno esporte normalmente é analisado omite sua real complexidade e amplitude, se tratando de uma manifestação cultural que move massas, cria heróis e vilões, é lúdica e violenta, traz paixão e sofrimento, de alegria e dor e é capaz de parar um país por um simples jogo (que pode ser o jogo da vida de todos).
O fenômeno esportivo possui muitas características que se assemelham de uma forma simbólica a guerra, em que a batalha final é o jogo. As torcidas representam um papel semelhante ao das tribos guerreiras, se pintam, tem gritos de guerra e possuem um adversário. Por outro lado, este fenômeno é de certa forma um momento lúdico, de brincadeira e imaginação, podendo ser verificado quando os torcedores vestem a camisa de seu time, que é uma fantasia, se pintam, rezam, fazem promessas e apostas, onde o palco é o estádio e o espetáculo o jogo.
As pessoas possuem certa fascinação pela violência, que é garantida e controlada ao mesmo tempo pelas regras estabelecidas de cada modalidade esportiva. Pensar que multidões lotavam o Coliseu para assistir batalhas de homens contra leões, e os vitoriosos eram aclamados, tidos como herói, mas também comemoravam com a morte de alguém fraco, incapaz de vencer um leão. É claro que a maneira que os esportes se configuram hoje não possuem o mesmo nível de violência de antigamente, porém sua presença parece ser um ingrediente básico e necessário para que o esporte seja atrativo e apaixonante.
Para pensarmos o esporte de alto rendimento é preciso reconhecer todo o sofrimento corporal que ele promove, com o espírito de sempre superar seus limites, a dor parece não ser um elemento que represente o limite do ser humano, o que acaba causando lesões, deformações e mesmo óbitos. É inesquecível a imagem da maratonista que percorreu a reta final dentro do estádio quase caindo, andando completamente torta e exausta, e assim que cruzou a linha de chegada despencou no chão e rapidamente foi atendida pelos médicos que ali esperavam.
A presença do esporte no campo educacional deve assumir outra perspectiva, ou então ele pode ser altamente excludente, selecionando apenas os mais aptos, além da instrumentalização do corpo, limitando assim os movimentos que as crianças deveriam ter a chance de experimentar. Por outro lado, quando o resultado não é o fim e apenas um dos elementos presentes no esporte, este pode assumir outro caráter, enfatizando todo o processo de aprendizagem, como acontece com os índios do Pará, citado no encontro, que todos os jogos de futebol da tribo acabam empatados.
Funcionalizar o esporte pode ser também uma idéia equivocada, por exemplo que o esporte serve para promover saúde. A prática de uma atividade esportiva pode não ter utilidade, porém ter fundamento na própria vivência, joga porque gosta, dá prazer.
A idéia do esporte de alto rendimento de que o individual deve se submeter ao coletivo, que a vitória deve ser o objetivo principal, mesmo que para tal as habilidades individuais sejam excluídas, não faz tanto sentido no esporte educacional, onde a plasticidade ao realizar determinado movimento pode ser um momento mais prazeroso que a própria vitória, atribuindo outros significados à prática esportiva para além do resultado.
O ensino dos esportes como qualquer outra prática corporal, são elementos da cultura decodificados em movimentos, que nas práticas pedagógicas de Educação Física devem ter o intuito de ampliar o repertorio de movimentos corporais das crianças, e não podem ser comparados à prática de alto rendimento pois possuem uma dimensão educativa, e por isso deve assumir outro caráter na escola.
Um fator que prejudica a compreensão do fenômeno esporte e suas possibilidades nas práticas educacionais é a mídia. Quem define o que é o esporte não são os profissionais de Educação Física e sim as pessoas que trabalham com o esporte na mídia, normalmente com discursos de senso comum, cristalizando cada vez mais a idéia de que o esporte é um meio de ascensão social, omitindo a pluralidade deste fenômeno. Dizer que o esporte não é um meio de ascensão social seria mentira, porém o que tentamos destacar são as implicações que isto tem de uma forma mais ampla.
Para superar a superficialidade da compreensão deste fenômeno, o professor de Educação Física assume um papel de grande importância, analisando de uma forma crítica o esporte midiático para transformá-lo em elementos educativos. É necessário também que os professores de Educação Física conheçam os esportes, podendo criar novas possibilidades para intervir em determinada realidade.
Ainda sobre as práticas pedagógicas de Educação Física, os professores devem pensá-las sempre como um processo, que sofre alterações, com momentos bons e ruins, e não como episódios que têm fim em si mesmos.

RELATÓRIO 11/11

A documentação das práticas pedagógicas de Educação Física vem sendo um tema abordado pelo grupo como um elemento importante no período docente, contribuindo para refletir e construir intervenções de sucesso ao longo deste período, podendo ser utilizado como material de divulgação e como armazenamento destas práticas que possivelmente seriam esquecidas ao longo dos anos no magistério. A professora Geisa apresentou a documentação de um processo pedagógico baseado no boi-de-mamão, que tinha o brincar como eixo norteador, elaborado por ela num trabalho conjunto com a professora de sala.
O caminho foi sendo descoberto ao longo do processo, apesar de haver um planejamento prévio, após cada intervenção as professoras faziam uma reunião para encaminhar a aula seguinte, reformulando e adaptando as atividades ao ritmo das crianças, respeitando o interesse e tempo delas, pois como relatado, alguns dias elas queriam apenas brincar com os personagens e outros se dedicavam a construção. Não determinar as intervenções de uma proposta pedagógica a priori parece ser uma necessidade para desenvolver um trabalho satisfatório, incluindo os alunos não só do desenvolvimento, mas também no planejamento, na medida em que o professor percebe a dinâmica, o interesse, o tempo, os desafios, os espaços, os materiais, dentre outros elementos da prática pedagógica que mobilizam os alunos a participarem, sendo a reflexão uma ferramenta importante na construção de práticas formadoras e interessantes.
Durante o processo relatado, houve uma separação de tarefas entre os alunos, muito em função do interesse, pois alguns não queriam colocar a mão no “grude” (material feito com cola, papel e água), se atendo com picar os papéis ou modelar os personagens, enquanto outros ficavam toda a aula mexendo no “grude”. Ao longo do processo as práticas foram se adequando ao tempo que as professoras perceberam ser suficiente para contemplar o interesse das crianças por esta atividade, que era realizada cinco vezes por semana, três para a confecção dos personagens, normalmente uma hora, e duas para brincar e desenvolver atividades com o boi-de-mamão, durante uma hora e meia.
Um fato importante no processo de construção foi que as crianças modificaram a história do boi-de-mamão, criando novos personagens (como o urso branco, pois as crianças queriam um irmão para o urso preto), recriando alguns personagens (o cavalo foi feito rosa, votado pela turma) e criando novas movimentações para cada personagem (que possuem movimentos característicos).
Essa proposta de trabalhar com o boi-de-mamão faz parte de um projeto da unidade, que visa estimular brincadeiras de faz-de-conta, e neste processo desenvolvido pela Educação Física, novos elementos eram colocados para estimular a imaginação. A experiência do boi-de-mamão foi tão significante, que as crianças vivenciaram profundamente o mundo imaginário da história dos personagens e como relatado pelas mães, tinham dificuldades de dormir com medo da bernuza (personagem do boi-de-mamão) em baixo da cama.
O processo de construção dos personagens é muito rico, e como a proposta foi desenvolvida com apenas um grupo foi mais fácil documentar e captar o que as crianças estavam imaginando. A professora de sala que fez parte do processo tinha grande conhecimento em artes, ajudando a colocar o que as crianças imaginavam nos personagens construídos.
Após a confecção e vivência dos personagens, teve um momento de interação, em que a turma se apresentou para as outras da instituição, e todos puderam participar. O material construído também era emprestado para as outras turmas, porém não era muito fácil, pois as crianças que participaram do processo desenvolveram um sentimento de pertença muito grande.
O registro das intervenções também foi feito com fotografias e filmagens, acontecendo uma exposição na sala, onde os familiares também puderam ver quando deixavam as crianças. As imagens foram exibidas para a turma ao término do processo e ao se verem, os alunos faziam alguns comentários, tais como: por que você não fez assim? Se referindo ao jeito de dançar. As documentações em fotos e imagens parecem ampliar ainda mais a dimensão da brincadeira, possibilitando a auto observação durante o processo de construção, o que as crianças mostram gostar muito.
Uma visita a outra instituição a fim de proporcionar um encontro de bois tentou ser encaminhada, mas sem o apoio da direção não foi possível viabilizar um ônibus para fazer o transporte, e como as crianças eram de uma baixa classe social, a possibilidade de elas pagarem foi descartada.
As intervenções não contavam com a presença da professora auxiliar de sala, e como relatado pela professora Geisa, não fazia falta, pois para participar a pessoa tem que estar de corpo e alma no processo, se é para atrapalhar é melhor ir tomar café. Dentro da instituição também houve questionamentos a respeito da especificidade da Educação Física na Educação Infantil, apontando o trabalho desenvolvido como pertencente as artes, mas como entre as professoras que estavam participando do processo esta questão já foi superada, a experiência tentou contemplar a totalidade do trabalho pedagógico, proporcionando variadas formas de dançar, se-movimentar e construir.
Outras práticas desenvolvidas na rede com o boi-de-mamão foram relatadas no encontro, usando outros espaços, com a presença da família, fazendo um encontro de bois ou com toda a instituição construindo os mesmos personagens. A documentação destas práticas pode ser utilizada para a divulgação dentro e fora do grupo, contribuindo para ampliar o repertório de possibilidades, estimulando e auxiliando outros professores em práticas futuras.

RELATÓRIO 29/10

Com a nova legislação, que adiantou a escolarização em 1 ano, cabendo à educação infantil trabalhar com crianças de 0 a 5 anos, acrescentando mais uma série ao ensino fundamental, talvez se acentue uma quebra muito dura e impactante no fluxo educacional, tendo as crianças que se familiarizarem com novos elementos que até então não faziam parte de seu mundo, tais como a obrigatoriedade do uso do uniforme, espaço físico da instituição, o tempo mais controlado, maior rigidez e cobrança, dentre tantos outros.
Essa questão não diz respeito apenas à idade, pois o maior entrave discutido pelo grupo foi exatamente a fluidez do sistema educacional, onde os pequeninos saem de uma instituição voltada para o cuidado, a brincadeira, o imaginário, a educação corporal menos determinada, dentre outros, ligadas ao mundo lúdico e à cultura infantil, e entram na escola pautada pelas regras, condutas e demandas sociais estritas, vinculadas ao mundo adulto, concebendo o tempo de outra forma, altamente ligada ao controle e à produção, refletindo em práticas de domínio corporal, como sentar em carteiras, geralmente no mesmo lugar, permissão para beber água ou ir ao banheiro, ou mesmo punições, como ficar de fora na aula de Educação Física. Todos estes novos elementos podem ser muito impactantes para a experiência infantil.
Apesar de não termos tantos dados sobre a realidade das práticas pedagógicas em escolas nesta faixa etária, questionamos a preparação das instituições e dos profissionais que nela atuam para receberem crianças de pouca idade (6 anos). São freqüentes durante o ensino fundamental as piadas e comentários discriminando a infância, referindo-se a esta fase da vida como aculturada, sem um valor significativo e que deve ser esquecida.
Outra estrutura social abalada com esta nova legislação, comentada no encontro, é a família, que antes podia deixar suas crianças sob os cuidados de profissionais nas creches e NEIs, agora relatam que as crianças ficam em casa, muitas vezes sozinhas, tendo contato com responsabilidades que não estão de acordo com suas demandas, como limpar a casa, a louça, roupa; aqueles com melhores condições sociais têm um videogame como companheiro.
Um exemplo citado no encontro, ao se relatar uma intervenção em que alunos de 9 anos não queriam tomar parte de uma atividade por avaliá-la como uma proposta que seria “coisa de criança”: muitos deles com uma corrente presa à calça, porém traídos pelo desejo ao verem os demais colegas se divertindo, se entregam à brincadeira e ainda utilizam as correntes (símbolo de juventude) como objeto lúdico que representa a correia do cavalo. Isto nos faz abrir uma reflexão sobre como esta escolarização pode ser um dos elementos que condicionam as crianças a amadurecerem mais rápido, privando-as de experiências únicas e de grande importância para a formação, direcionando-as cada vez mais cedo para o mundo do trabalho, representado na escola pelo tempo, provas, tensão, cobrança, rendimento, dentre outros tantos elementos.
A partir da discussão de imagens feitas em uma intervenção da Professora Denize, concordamos que a elaboração de uma proposta educacional está relacionada à visão de aprendizagem da instituição, com os conteúdos/linguagens que são apoiados por ela, e a Educação Física neste contexto deve ser analisada de uma forma institucional, ou seja, integrada com os demais saberes . Como relatado pela professora de Educação Física das imagens, a proposta foi construída ao longo dos anos, tendo sido no início organizada apenas pela Educação Física, e aos poucos foi se configurando como acontece hoje.
A inclusão de alunos com histórico de deficiência nas práticas pedagógicas de Educação Física é um grande desafio para os professores, que possuem um déficit acadêmico enorme em relação à inclusão. Isso, aliado à política excludente do sistema educacional até pouco tempo vigente, fez com que historicamente se constituísse profissionais despreparados para intervir nesta realidade. O preconceito embutido na cultura é certamente outra fator que limita as práticas docentes inclusivas, pois quais os lugares sociais que as pessoas com histórico de deficiência ocupam para nós? Qual a representação que temos das pessoas com histórico de deficiência? Então, a problemática da inclusão deve ser analisada tanto pelo viés da formação acadêmica quanto o cultural, o que exige do professor muita disciplina e auto-crítica, inclusive de sua própria formação cultural, procurando superar possíveis preconceitos.
Uma questão para refletirmos referente à formação acadêmica e a inclusão, é como um professor licenciado em um curso altamente esportivizante, que se pauta pela eficiência, irá conseguir criar possibilidades de inclusão de deficientes? É preciso ficar atento a experiências que podem ser frustrantes, propondo atividades não condizentes com a capacidade motora e intelectual do aluno, incapacitando-o de vivenciar uma brincadeira. Mais problemático é não permitir que as crianças com histórico de deficiência tenham a possibilidade de vivenciar as brincadeiras e atividades, quando experimentariam o sucesso e o fracasso ( vitória/derrota ) o que contribuiria para a aprendizagem social.
A segurança e a confiança são alguns dos elementos citados no encontro, e que são fundamentais quando em contato com crianças de pouca idade, sendo assim também na presença de crianças com histórico de deficiência. A segurança busca preservar a integridade física, adequando o material, espaço e atividades às capacidades dos alunos, tentando encontrar a dimensão em que a experiência seja prazerosa e segura. Para tal, a confiança é primordial para que a criança com histórico de deficiência vivencie as práticas propostas, construindo uma relação afetiva entre professor-aluno que possibilitará a sua participação efetiva no desenvolvimento da aula, contribuindo no processo de formação da personalidade e da individuação.
Dialogando com a temática da inclusão está a competição, que geralmente é trabalhada na escola dando ênfase aos resultados, quando o que interessa é a vitória. Sendo assim, os professores de Educação Física encontram enormes dificuldades para trabalhar a inclusão neste contexto, pois a competição em busca da vitória não é o único objetivo para as pessoas com histórico de deficiência, que atribuem um grande valor ao processo e não apenas no resultado.
Alguns depoimentos oriundos de práticas pedagógicas relataram que crianças que desejam o resultado, normalmente os “melhores” em uma determinada modalidade, têm uma tendência a serem mais violentas, enquanto aqueles que não jogam muito bem assumem papéis secundários no jogo e tendem a ficarem dispersos, ou seja, são meros coadjuvantes no jogo que não reconhecem o seu papel no jogo.
Numa estrutura social que ensina que ganhar é o melhor, assim se será venerado, trará sorrisos, felicidade, fica difícil imaginar um outro modelo esportivo. Cabe, porém, ao professor, criar estratégias que façam as crianças se sentirem valorizadas no jogo, não assumindo o papel de excluídos incluídos, que não raro acontece nas instituições de ensino.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

RELATÓRIO - 14/10

A discussão teve início com o tema do lugar social que as instituições educacionais ocupam, que está sendo cada vez mais esquecido, havendo uma precarização dos objetivos educacionais, que é a formação e a humanização das crianças e jovens. Fazendo parte deste contexto, a Educação Física sofre problemas de legitimação: o que justifica, por exemplo, a presença dos professores de Educação Física no ensino de 0 a 5 anos ? Que conhecimentos são transmitidos nas aulas de Educação Física que não poderiam ser contemplados fora da instituição ou por profissionais de outras áreas, como os/as pedagogos/as?
A realidade das práticas pedagógicas de Educação Física na educação infantil ainda é em grande parte desconhecida e apesar da documentação de algumas ótimas propostas de professores e professoras deste grupo, a falta de pesquisas contribui para que essa especificidade não seja reconhecida. Isso acaba gerando uma falta de subsídios para reflexão e orientação, levando freqüentemente à reprodução de atividades que seriam facilmente realizadas fora das creches, um problema que atinge também a Educação Física escolar.
As aulas de Educação Física poderiam ampliar o repertório corporal, propiciando a experiência de movimento em suas amplas dimensões (sentir, pensar, agir), contribuindo significantemente para a formação pessoal, onde as crianças experimentariam sensações de medo, desafios, podendo superá-los, criando sentimentos que muito ajudariam neste processo.
Para tal, é preciso que o espaço da Educação Física na educação infantil seja pensado, fundamentado e modificado, como comentado pelo grupo, procurando o campo de atuação dos professores de Educação Física, na medida em que as práticas pedagógicas se misturam no contexto da educação infantil, materializando a concreta contribuição dessa prática na complexidade do trabalho pedagógico.
O movimento de aproximação com outros professores da instituição faz parte, paradoxalmente, da busca pela legitimidade da prática da Educação Física, pois a afirmação da sua presença na educação infantil tem sentido quando analisada de uma forma integrada com os outros saberes, sendo o corpo um elemento que perpassa toda a instituição, seja nos momentos de higiene, nas aulas de Educação Física, na hora do sono, por isso a proposta de não fragmentar a educação infantil, fundindo as áreas atuantes neste contexto para que as crianças recebam a educação como um todo.
Outro elemento que não pode ser esquecido nas práticas de Educação Física no 0 a 5 anos, é a técnica, presente em vários momentos da educação dos pequeninos, como, por exemplo, para comer é necessário a técnica para segurar o garfo ou colher, para escovar os dentes ou para realizar determinado movimento na aula de Educação Física; então não podemos negligenciar a importância da técnica e sim observá-la como um elemento emancipador, fundamental para a formação humana. É preciso ficar atento, no entanto, ao erro que é a idolatria pela técnica, tratando-a como um fim, quando deveria ser vista como um meio para os objetivos educacionais.
Uma constante durante os encontros é a preocupação com os diversos problemas emergentes das práticas pedagógicas com as quais não sabemos lidar, em relação à sexualidade e gênero, em relações de poder, ou mesmo preconceitos, violência, refletindo na prática em situações de agressão física, monopolização de brinquedos ou com crianças “limpas” não querendo dar as mãos para crianças “sujas”. As múltiplas hierarquias étnico-raciais, de classe, ou de força física, não podem ser consideradas como “coisa de criança”, e sim um problema pedagógico a ser enfrentado, discutido e refletido, pois o silêncio é um aliado para que essas práticas se perpetuem. Esses elementos que emergem também na prática pedagógica, após enfrentados, discutidos e refletidos, podem favorecer a busca por ações para sua superação.
Como organizar a prática pedagógica que intervenha nesse processo? Esta pergunta certamente não é fácil de responder, muito em função da própria formação dos professores no ensino superior, que está distante da real situação das creches e escolas em relação à violência, preconceito racial, inclusão de pessoas com histórico de deficiência, contribuindo para que esta realidade se prolongue e se consolide cada vez mais.
A falta de pesquisas sobre as práticas pedagógicas reais nas universidades, a não documentação dos problemas e dificuldades dos professores atuantes nas instituições de 0 a 5, a carga horária excessiva, entre outros inúmeros fatores, faz com que haja uma “normalização” dessas condutas, e o professor muitas vezes não consegue enxergar e refletir sobre a sua prática docente por limitações individuais e de formação, ou mesmo porque se cansa desta rotina desgastante, e não muito raro finge que não vê, para poupar-se do desgaste físico e psicológico.
Para combater estes problemas evidentes relatados com freqüência pelos professores da rede, primeiro é preciso considerar que o problema existe, para então refletir e criar estratégias concretas para intervir. Algumas possibilidades foram sugeridas no encontro, e uma delas é ter um intervalo entre as aulas, para que a rotina não se torne muito desgastante, e outra, é estabelecer uma ordem de prioridades para serem resolvidas, porém vale ressaltar que a construção de estratégias para intervir é pessoal, pois estamos lidando com crianças que são seres altamente complexos e realidades sociais diferentes.
Tentar abraçar a avalanche de problemas emergentes das práticas pedagógicas pode ser frustrante, por isso organizar uma ordem e começar aos poucos é uma estratégia que pode ser eficaz. Cabe ao professor, por meio da reflexão e observação atencional, criar seus mecanismos e testá-los, pois só quem está atuando nesta realidade é capaz de perceber a eficácia.
As práticas docentes em Educação Física precisam ser desnaturalizadas, encarando as crianças como seres complexos, que provêm de famílias multifacetadas, com dificuldades e problemas que se traduzem na hora da prática pedagógica, então, se faz necessário, uma aproximação do professor com seus alunos, procurando desvendar e conhecer a realidade deles, criando um vínculo relacional afetivo que em muito ajudará na formação da criança e também no desenvolvimento das aulas.
Finalizando o encontro, surgiu a discussão sobre a legalidade da Educação Física na educação infantil, que sofre algum tipo de dificuldade, mesmo que os professores de Educação Física estejam atuando na educação infantil desde 1982 , porém ainda não possuem sua presença garantida por lei, havendo um “empréstimo” destes profissionais para atuarem neste campo.
O distanciamento da proposta da secretaria para os assuntos discutidos durante os encontros pelo grupo ainda é grande, então como fazer a aproximação das práticas pedagógicas reais das questões legislativas? Qual o caminho para esclarecer questões relevantes que precisam ser superadas?
O fato de a Secretaria reconhecer o grupo é importante e também um começo para que ele paute o debate a partir das discussões e reflexões emergentes das práticas reais a proposta da Educação Física para a educação infantil. O grupo possui um acúmulo de conhecimento suficiente para construir um conjunto de idéias teórico-metodológicas com um olhar a partir da realidade das práticas, de modo a poder encaminhar propostas para a Secretaria Municipal de Educação.
Parece ter chegado a hora de haver um enfrentamento por parte do grupo para que questões que afetam diretamente o desenvolvimento de práticas pedagógicas construtivas sejam superadas, pois acima da disputa por campo ou melhores condições de trabalho, está a formação humana das crianças que deve ser o objetivo maior do processo educacional.
O grupo, após muitos anos de discussões acerca do tema da Educação Física na Educação Infantil, questões emergidas da prática, poderia contribuir com a SME. Um exemplo é o Tempo Pedagógico X Tempo “Cronológico”, uma crítica do grupo ao modelo escolarizante adotado na Educação Física em suas intervenções na Educação Infantil: sendo realizada 3 (três) vezes na semana durante 45 (quarenta e cinco) minutos. Para o grupo este tempo deve ser direcionado conforme a(s) necessidade(s) (o tempo) e interesses educativos das crianças, fato este já modificado em algumas instituições de professores presentes.

1. A Lei Nº 11.114, de 16 de Maio de 2005, torna obrigatório o início do Ensino Fundamental aos 6 (seis) anos de idade. A Lei Nº 11.274, de 6 de Fevereiro de 2006, ampliou o Ensino Fundamental para 9(nove) anos, sendo a matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos. Tem-se aí duas modificações no Ensino Fundamental e por conseqüência altera também a Educação Infantil que passa então a atender crianças com idade entre 0(zero) a 5(cinco) anos de idade, sendo que para esta adotando a seguinte nomenclatura: creche até 3 anos e Pré-escola 4-5 anos.
2. A Educação Física foi implementada na RME de Florianópolis no ano de 1982. Mais informações encontram-se na Dissertação de Déborah T. Sayão.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

PROJETO

1.1 INTRODUÇÃO
Uma das questões que mais saltam aos olhos em nossas pesquisas nos ambientes educacionais que atendem crianças, nas nossas atividades de ensino – na Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Educação Física e demais disciplinas de metodologia de ensino na Licenciatura e na Pedagogia – e também os vários cursos de formação que temos ministrado, diz respeito às dificuldades na relação entre a produção do conhecimento das pesquisas acadêmicas e a sua veiculação e materialização educacional. Faz parte deste conjunto de dificuldades a dispersão e falta de registro das práticas pedagógicas oriundas do cotidiano da rede pública, assim como a supressão da memória e da história dessas práticas. Referimo-nos, essencialmente, ao campo da educação do corpo, da Educação Física, tanto escolar quanto aquela que atende crianças de zero a seis anos nos NEIs e creches.
Essas dificuldades se materializam no cotidiano dos professores/as, mas também nos momentos de formação continuada. Nossas experiências com a formação inicial de professores/as na Prática de Ensino de Educação Física , bem como com aquela continuada em várias redes públicas municipais , com a pesquisa e a formação de quadros , têm nos mostrado algumas dificuldades no que se refere à produção e apropriação do conhecimento vindo tanto das pesquisas acadêmicas quanto, em associação ou contraposição a este, das experiências e memórias de ensino. Alguns deles saltam aos olhos: 1) o material bibliográfico que os colegas que atuam nas redes públicas têm acesso é muitas vezes lido de forma fragmentada e fora do contexto em que foi produzido; 2) uma grande dificuldade na elaboração de problemáticas oriundas da prática pedagógica, o que dificulta a busca de estratégias para sua superação; 3) visões estereotipadas sobre temas como infância, juventude, gênero, racismo, preconceito, inclusão, violência, lugar da Educação Física nos processos formativos, violência, metodologia, aprendizagem etc.; 4) dificuldades no planejamento das aulas; 5) as boas práticas e eficazes estratégias se perdem pela falta de registro e não costumam ultrapassar a lembrança difusa de que algo “deu certo”; 6) a legitimidade da Educação Física é constantemente colocada à prova.
É nesse contexto que propomos a retomada sistemática da formação dos professores e professoras de Educação Física que atuam em escolas que compõem o Fórum de Educação do Maciço do Morro da Cruz e na educação de zero a seis anos da rede pública de Florianópolis. Trata-se de um programa a ser desenvolvido de forma conjunta, porém, com especificidades que dizem respeito à natureza de cada um dos grupos envolvidos. Em ambos, no entanto, tratar-se-á de desenvolver um processo de encontros sistemáticos que combinem a apropriação do conhecimento produzido academicamente pela Educação Física e por áreas afins, com a reflexão sobre elementos da própria prática pedagógica. Esse processo contará com a observação, documentação e apresentação de experiências pedagógicas.
Como antes dito, temos um histórico de relações com o público-alvo deste projeto. Com professores/as de Educação Física que atuam na educação infantil no município de Florianópolis isso acontece na forma dos programas de formação (2003, 2004), na parceria nos estágios supervisionados da Prática de Ensino e na pesquisa Recuperación..., em cujo grupo tomam parte professores/as da rede municipal. No que se refere às escolas do Maciço, desenvolvemos processo de formação continuada desde 2006. Em 2007 realizamos um curso de formação na UFSC com um total de 20 horas-aula, além de incursões específicas em atividades isoladas de formação do Fórum. Tanto a proposta para os professores/as da rede municipal, quanto do Maciço, é oriunda de uma demanda desses grupos, amadurecida pelos próprios grupos de estudo que mantêm e ou pelas experiências de formação das quais já tomaram parte.
Temos a intenção de que os cursos desse ano de 2008 convirjam para a elaboração e proposição conjunta (UFSC e professores/as das redes) de curso de especialização lato sensu em Educação Física Escolar, a ser oferecido pelo CED em 2009. A construção da concepção e da dinâmica desse curso é também tarefa desse processo de 2008.

1.2 OBJETIVOS
1.2.1 - Objetivos Gerais
a) Desenvolver um processo de formação continuada de professores e professoras de Educação Física que atuam em escolas pertencentes ao Fórum de Educação do Maciço do Morro da Cruz e na educação de zero a seis anos no município de Florianópolis.
b) Documentar e sistematizar um conjunto de práticas pedagógicas de sucesso desenvolvidas na rede municipal e em escolas do Fórum de Educação do Maciço do Morro da Cruz, com vistas a sua divulgação, análise e reflexão crítica.
1.2.2 - Objetivos Específicos
a) Revisitar com os/as professores/as: a) as contribuições contemporâneas nos campos do ensino de Educação Física e da Didática; b) os debates contemporâneos acerca da educação do corpo na infância, notadamente em confronto e confluência com as questões das pedagogias das infâncias.
b) Promover a formação de professores e professoras de Educação Física para o uso de ferramentas de pesquisa (registros de diversos tipos, delimitação de problemáticas de reflexão, levantamento bibliográfico, fichamentos, análise categorial etc.) com vistas à investigação da própria prática pedagógica.
c) Discutir temáticas “transversais”, como gênero, etnia, preconceito, inclusão, entre outras, em cruzamento com os temas da educação do corpo na infância.
d) Documentar, disponibilizar e analisar práticas pedagógicas em episódios e em sua totalidade, com vistas à produção de material de apoio didático para os professores e professoras de Educação Física.
e) Elaborar projeto conjunto de curso de especialização lato sensu em Educação Física Escolar.

1.3 JUSTIFICATIVA
a) Os/as professores/as de Educação Física das redes públicas enfrentam a falta de programas de formação continuada, em especial que surjam das demandas da prática e com financiamento público. Entendemos que este é um compromisso nosso e da Universidade Pública.
b) Nossos projetos de pesquisa têm investigado a educação do corpo em ambientes educacionais, o culto do corpo na sociedade contemporânea, a indústria cultural e a cultura popular, a formação de educadores/as, as possibilidades de uma Teoria Crítica da Educação. Os resultados dessas pesquisas têm possibilitado um crescente avanço na formulação de estratégias de ensino, de formação inicial e continuada de professores/as, tanto na UFSC quanto em outras instituições e estruturas públicas, em Santa Catarina e em outros estados. Isso precisa se sedimentar de forma mais dinâmica nas redes públicas de nossa cidade.
c) Há um enorme distanciamento entre a produção acadêmica da área de Educação Física e a atuação dos/as professores/as das escolas e instituições de atendimento à infância. Os trabalhos acadêmicos permanecem, geralmente, em um círculo de auto-alimentação, funcionando como requisitos para novos trabalhos, mas deixando uma lacuna em relação a professores/as e alunos/as das escolas. Essa lacuna deve ser preenchida.
d) As memórias dos/as professores/as e de suas práticas constituem um importante manancial de referências para novas práticas, sendo este um ponto importante para os investimentos na formação continuada. Isso não apenas valoriza as boas práticas, quanto torna coletivas as soluções encontradas, trazendo-as ao plano do conceito e da análise crítica e possibilitando seu aperfeiçoamento.

1.4 PÚBLICO ALVO
Professores e professoras de Educação Física, e outros/as interessados/as, que atuam em escolas que compõem o Fórum de Educação do Maciço do Morro da Cruz e em instituições que atendem a pequena infância da rede pública municipal de Florianópolis. Trabalharemos com um universo composto diretamente por cerca de 70 professores/as, com efeito multiplicador em seus pares (de Educação Física e de outras áreas) nas instituições e na prática pedagógica, com seus alunos.

1.5 METODOLOGIA
1.5.1 - Ações com professores/as que atuam na Educação Física Escolar em escolas que compõem o Fórum de Educação do Maciço do Morro da Cruz
Encontros mensais, a partir de abril, na UFSC ou em escolas do Maciço, num total presencial de 40 horas-aula, mais atividades complementares de mais 60 horas-aula (estudos, observação, sistematização de atividades, formação à distância etc.)
1.5.2 - Ações com professores/as de Educação Física da rede pública de Florianópolis que atuam em instituições de atendimento à infância
Encontros quinzenais a partir de agosto de 2008, na UFSC ou em escolas do Maciço, num total presencial de 40 horas-aula, mais atividades complementares de mais 60 horas-aula (estudos, observação, sistematização de atividades, formação à distância etc.). Esses/as professores/as serão organizados em dois grupos, conforme indica nossa experiência com a formação continuada durante os anos de 2003 e 2004, e também as avaliações que têm sido feitas por com colegas da rede: a) um grupo (I) composto por professores e professoras iniciantes na rede, com apresentação e discussão de temáticas que os introduzam nos debates atuais que cruzam educação do corpo, educação física crítica e os enfrentamentos da pedagogia para a educação infantil (“escolarização” X “não-escolarização”, “pedagogia da infância”, pluralidade das culturas infantis etc.); b) um grupo (II) com profissionais com trabalho mais consolidado, com questões de debate delimitadas, problemáticas a serem investigadas de forma mais pormenorizada. Os encontros podem e devem acontecer simultaneamente.
1.5.3 - Ações com os dois grupos, conjuntas ou não
a) Incursões nas instituições, sempre com a devida autorização das partes envolvidas, com vistas ao registro e captação de cenas do cotidiano a serem examinadas coletivamente.
b) Exercícios de sistematização, análise e apresentação de experiências educacionais.
c) Produção coletiva de material de formação continuada para os anos posteriores, na forma de imagens e textos.
d) Consecução de um ambiente web para a comunicação, acúmulo e desenvolvimento das atividades.
e) Documentação de narrativas com fontes orais, a partir de roteiro especialmente preparado para este fim.
f) Discussão, elaboração e consecução de projeto de curso de especialização lato sensu em Educação Física Escolar, a ser ministrado em 2009.

1.6 VIABILIDADE DO PROJETO
O projeto se mostra viável pelos seguintes motivos:
a) Tanto o coordenador, Alexandre Fernandez Vaz, quanto os colaboradores, integrantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea, bem como os convidados, têm experiência no ensino e na formação de professores/as.
b) Temos o apoio dos professores/as que tomarão parte das ações, uma vez que as demandas partiram deles – ou dito de outra forma, são resultantes dos processos de formação que temos desenvolvido ao longo dos últimos anos.
c) Temos os equipamentos minimamente necessários, assim como os instrumentos didáticos (desenvolvidos em nossas pesquisas) e o aparato conceitual que o processo exige. De qualquer forma, buscaremos recursos financeiros para a ampliação e melhor desenvolvimento do projeto, como aqueles oferecidos em editais como o Funpesquisa/UFSC e outros no âmbito público.
d) O projeto se associa ao ensino e à pesquisa o que lhe propicia fundamento, amplitude e aplicação imediata.

1.7 BIBLIOGRAFIA
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
ADORNO, T.W. Palavras e sinais. Petrópolis: Vozes, 1995.
______. Kritik. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1971.
______. Educação e emancipação. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. 5. ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002.
______. Responsabilidade e Julgamento. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
BENJAMIN, W. Obras escolhidas I: magia, técnica, arte e política. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
BRACHT, V.; CRISORIO, R. (Org.). A Educação Física no Brasil e na Argentina. São Paulo: Autores Associados, 2003.
SAYÃO, D. T. Educação Física na pré-escola: da especialização disciplinar à
possibilidade de trabalho pedagógico integrado. 1996. 169f. Dissertação (Mestrado em
Educação)-Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 1996.
______. Disciplinarização do corpo na infância: educação física, psicomotricidade e trabalho pedagógico. In: SAYÃO, D. T.; MOTA, M. R. A.; MIRANDA, O. (Org.). Educação infantil em debate. Rio Grande: Fundação Universidade Federal do Rio Grande, 1999. p. 43-59.
______. Corpo e movimento: notas para problematizar algumas questões relacionadas à
educação infantil e à Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 23, n. 2, p.55-67. jan. 2002.
SOARES, C. L. Cultura de Movimento. In: ______. CORPO, Prazer e Movimento. São Paulo: SESC, 2003. p. 14-23.
VAZ, A. F. Treinar o corpo, dominar a natureza: notas para uma análise do esporte com base no treinamento corporal. Cadernos CEDES, São Paulo, ano 19, n. 48, p. 89-106, ago. 1999.
______. Ensino e formação de professores e professoras no campo das práticas corporais. In: VAZ, A. F.; SAYÃO, D. T.; PINTO, F. P. Educação do corpo e formação de professores: reflexões sobre a prática de ensino de Educação Física. Florianópolis: UFSC. 2002. p. 85-107.
______. Aspectos, contradições e mal-entendidos da educação do corpo e a infância. Motrivivência, Florianópolis:, v.13, n.19, p. 7-11, 2002.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

RELATÓRIO - 30/09

Primeiramente, recapitulamos o que foi debatido no encontro anterior, articulando a discussão teórica, proposta nos textos , com as imagens, em relação ao papel/função do professor de Educação Física na Educação Infantil. O diálogo com os demais profissionais da instituição é um caminho para o desenvolvimento de uma prática docente de qualidade, construindo um vínculo entre os saberes, buscando a totalidade do trabalho pedagógico, pautado pelas necessidades, interesses e demandas das crianças.
As práticas corporais devem ser trabalhadas pela instituição de uma forma integrada, e a Educação Física tem grande importância neste processo educacional, contribuindo principalmente para a construção e ampliação do repertório de experiências corporais das crianças.
Em seguida, assistimos as imagens de uma aula da professora Inelve , e os professores da rede destacaram a diversidade de brincadeiras e materiais, organizados de uma maneira que consideramos como “o olhar da Educação Física”, de alguém atento às experiências do corpo, em especial quando em movimento.
Surgiu então, uma temática interessante: como ampliar o repertório de movimentos das crianças, usando os mesmos materiais e espaços? Apesar da ausência da professora Inelve no encontro, supomos que a proposta tem sempre um tema diferente, provavelmente dispondo os materiais de outra forma, com outras brincadeiras. Ainda sobre este assunto, duas professoras destacaram a capacidade que as crianças possuem para recriar as brincadeiras, buscando novos desafios.
O corpo é vivenciado muitas vezes como a própria brincadeira e também como um grande desafio, na tentativa de superar limites, experimentar novas sensações e outras possibilidades de se movimentar, sendo um dos elementos que constitui a cultura infantil, manifestando-se com uma diversidade de significados, linguagens e emoções. A presença da Educação Física na pré-escola contribui no desenvolvimento do se-movimentar (Kunz, 1991), onde a criança vivencia as três dimensões do movimento, o sentir, pensar e o agir, (Kunz, 1991) sendo de grande relevância para a formação.
A questão do tempo das práticas de Educação Física foi outro elemento abordado a partir das imagens, aliás, essa discussão acompanha os projetos de formação continuada desde 2002, e o atual grupo argumentou que a temporalidade da intervenção deve ser suficientemente extensa para as crianças vivenciarem o que é proposto, adequando o tempo das aulas aos objetivos da formação .
Outra temática relacionada às imagens foi a presença da professora de sala durante as intervenções da Educação Física, e a resposta dos professores da rede foi que essa participação varia, é mais pessoal, pois alguns participam sempre e ativamente, muitas vezes não sendo possível evidenciar quem está conduzindo a aula (como relatado por uma professora), e se outros apenas acompanham ou não participam. Outra resposta foi que esta relação, este envolvimento, é construído, com o professor de Educação Física assumindo um papel de orientador destas professoras, pois na maioria das vezes, elas têm um outro olhar sobre a prática, mais preocupadas com a segurança das crianças, e não enxergam a importância e a real contribuição que a Educação Física pode dar para a formação dos pequenininhos. É possível que com esse diálogo, elas (professoras de sala) possam compreender melhor e ver sentido no que está sendo proposto.
A prática pedagógica deve propiciar momentos prazerosos e formadores, mas alertamos que não pode se esgotar no que as crianças “gostam” e querem de forma casual ou imediata, mas trazendo constantemente novos elementos que contribuam para ampliar o repertório de movimentos, sensações, emoções, situações e gostos. Para tal, a técnica se torna um elemento fundamental e libertador, na medida em que as crianças aprendem a técnica de um determinado movimento, elas absorvem também os perigos oferecidos e as outras possibilidades existentes deste mesmo movimento.
Apesar da importância da técnica, ela não deve ser a finalidade da proposta pedagógica, e sim um elemento para potencializar o prazer e o alcance de novas possibilidades de movimento, possibilitando que as crianças se sintam mais seguras na execução de um gesto durante a brincadeira e também dando subsídios para elas criarem maneiras próprias de se movimentar a partir da técnica básica.
Para que as técnicas corporais sejam compreendidas pelas crianças, é preciso dar um sentido que as mobilize a aprenderem, e que deve estar intimamente ligado ao imaginário. Aqui se coloca um importante papel do professor de Educação Física na Educação Infantil, encontrar o estado de empatia entre os objetivos da aula e a linguagem multidimensional da criança.
Talvez, esta seja a tarefa mais difícil do professor de Educação Física, mas propomos que, por meio da observação atenta do cotidiano da instituição, a reflexão crítica da própria prática pedagógica e a pesquisa , essa dificuldade possa ser superada para que as crianças vivenciem experiências realmente formadoras no processo educacional.
Dialogando com essa dificuldade, surge o tema da formação acadêmica da Educação Física, com um déficit no ensino dos conteúdos clássicos, entre eles o das modalidades esportivas, sendo este muitas vezes um fator limitante para a ampliação do repertório de movimentos corporais das crianças, com professores repetindo atividades baseadas em suas experiências pessoais, usualmente calcadas no princípio esportivo, privando os pequeninos de experimentarem uma gama vasta e importante de movimentos.
Já finalizando o encontro, foi brevemente relatada uma experiência no ensino da capoeira, conteúdo com o qual vários têm dificuldades por conta de nossa formação fragmentada na licenciatura em Educação Física. Um momento interessante do que foi relatado diz respeito ao trânsito de trazer para a instituição os conhecimentos da capoeira (ou de outras práticas corporais), na forma de oficinas, por exemplo, e, ao mesmo tempo, buscar esses conhecimentos ao levar a si e as crianças para os locais onde a capoeira é praticada.
Esta forma dinâmica de tratar o conhecimento é muito produtiva, pois o professor também se forma nestas experiências, ampliando o repertório pessoal de conhecimento, algo que poderá desdobrar em suas intervenções.
1 Vaz, F. Alexandre. Aspectos, contradições e mal-entendidos da educação do corpo e a infância.Sayão, T. Deborah. A construção de identidades e papéis de gênero na infância: articulando temas para pensar o trabalho pedagógico da Educação Física na Educação Infantil.
2 As imagens foram feitas na creche Nossa Senhora Aparecida, sendo documentada uma proposta de interação entre 3 turmas de diferentes idades, planejada pela professora de Educação Física e articulada com toda a instituição.

3 Ver: Sayão, Deborah T. O Fazer pedagógico do professor/a de Educação Física e Cardoso, Carlos L. Emergência Humana, Dimensões da Natureza e Corporeidade: sobre as atuais condições espaço-temporais do se-movimentar.
4 Ver: Adorno, Theodor. Educação após Auschwitz e Vaz, Alexandre F. Técnica, esporte e rendimento.

5 Ver: Vaz, Alexandre F. Aprender a produzir e mediar conhecimentos: um olhar sobre a prática de ensino de Educação Física. Motrivivência, 1999.
Referências
KUNZ, Elenor. Educação Física: Ensino e Mudança. Ijuí: Ed. Unijuí, 1991.